Em tempos de pandemia, a importância da previsibilidade nos contratos de eficiência energética

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As adversidades, às vezes mais graves e em outras mais brandas, surgem pelo caminho de empresas que trabalham com medição, análise e planejamento, em busca de economia. 

 

RENATA DE CÁSSIA FERREIRA SILVA
Gerente de Soluções de Eficiência Energética da GreenYellow

 

O cálculo de energia consumida no dia a dia dos mais diversos segmentos de negócio, seja um comércio varejista ou um centro de distribuição, por exemplo, depende de uma série de variáveis que devem ser levadas em conta. Quando se implanta um programa de eficiência energética com análise de performance numa empresa, com foco na redução desse consumo e na modernização dos equipamentos conectados à rede elétrica, como lâmpadas, geladeiras etc, é necessário usar padrões internacionais confiáveis para garantir que o trabalho esteja de acordo com a realidade dos números.

Principalmente quando o mundo passa por tempos tão desafiadores como o que estamos vivendo agora, em virtude da pandemia do Novo Coronavírus, que levou ao fechamento temporário de lojas de ramos considerados não essenciais e de ambientes corporativos, é primordial que as companhias que oferecem o serviço de eficiência energética no mercado brasileiro baseiem sua atuação no IPMVP (International Performance Measurement and Verification Protocol – Protocolo Internacional de Mensuração e Verificação de Performance, em português).

O fato dos projetos usarem como parâmetro o IPMVP permite que cenários que nunca haviam sido imaginados antes, como os que se veem nos dias atuais, por causa da COVID-19, possam ser dimensionados e refletidos no resultado.

Normalmente, os cálculos utilizam o método de comparação ao longo do tempo, podendo levar em conta as condições de operação, como a quantidade de pessoas que trabalham no local e o horário de circulação delas no ambiente, o tipo de atividade realizada, as características no edifício, entre outros fatores, do período anterior (passado), do futuro ou de um marco que funciona como um acordo entre as duas partes – cliente e empresa fornecedora. Na sequência vêm os processos de planejamento, medição, coleta e análise dos dados. No caso da opção de contrato que contempla o passado, por exemplo, são utilizadas as informações de funcionamento anterior ao projeto. Deste modo, usando como exemplo a situação que ocorre nos dias e hoje, durante a pandemia, ainda que determinada loja esteja fechada, a economia será calculada com base no seu horário de funcionamento normal. Assim, é possível tornar o negócio menos arriscado para o investidor, que continua com o risco da variação da tarifa e da performance do projeto.

O segundo tipo de contrato, que poderíamos dizer que está baseado nas condições de operação e funcionamento do futuro, leva em conta uma perspectiva do que ainda não existe ou está em pausa durante a auditoria energética. O consumo de energia será contrastado com o quanto a unidade deveria consumir de energia, caso o projeto não tivesse sido executado. Utilizando o mesmo exemplo anterior, no caso de uma loja fechada, a redução seria zero. Por sua vez, em uma situação de ampliação do horário de funcionamento, de 12 para 24 horas, seria gerado o dobro da economia estimada. Neste modelo de negócio o investidor assume, inclusive, o risco de alteração de operação do cliente, o que pode tornar o contrato mais caro.

Já no cenário onde as condições de operação são combinadas entre o contratante e o fornecedor responsável pela implantação do projeto, a definição dessas condições é feita de maneira conjunta entre as partes, para combinar os riscos e reduzir o custo do contrato. Portanto, a economia é calculada com base na medição das características dos equipamentos instalados antes e depois do projeto, a exemplo da performance do ar condicionado ou da potência das luminárias. Tais medições são utilizadas para estimar o consumo antes e depois do projeto, com base nas condições pré-estabelecidas. Este é o modelo, em geral, mais fácil de monitorar, pois reduz o número de variáveis externas que afetam a economia, portanto, traz mais segurança para ambas as partes.

Analisando os resultados reais de consumo energético em uma loja pertencente a uma rede de varejo não-alimentar, que precisou parar o atendimento presencial após o decreto de isolamento social, em São Paulo, percebeu-se que seus números vinham mantendo um certo equilíbrio desde o começo do mês de março. No exato momento em que o Governo do Estado definiu o fechamento das lojas, a fim de evitar circulação de pessoas, no dia 21 do mesmo mês, notou-se que, logo na data seguinte, não houve gasto de energia na unidade. À exceção do dia 23, registrou-se uma queda que fez com que baixasse quase quatro vezes o consumo local. A empresa que utilizei nesse exemplo conta com um serviço de eficiência energética, baseada no terceiro modelo de contrato que descrevi acima – o combinado. Por isso, mesmo na circunstância de uma pandemia, é possível, neste caso, ter o protocolo como norte, manter as referências do que influencia no consumo de energia e continuar com o plano traçado de economia.

As adversidades, às vezes mais graves e em outras mais brandas, surgem pelo caminho de empresas que trabalham com medição, análise e planejamento, em busca de economia. Quero destacar, no entanto, a importância do acesso às informações, sem as quais é impossível se chegar a um estudo claro e efetivo. Somente com dados precisos é possível oferecer ao cliente a garantia real de economia de energia e certa previsibilidade, mesmo em tempos difíceis.

Renata de Cássia Ferreira Silva é Gerente de Soluções de Eficiência Energética da GreenYellow

Fonte: Canal Energia

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