Energia solar nas residências e no comércio
O varejista brasileiro Magazine Luiza, em forte ascensão ao longo desta pandemia, deu mais um passo rumo à economia sustentável. A partir do ano que vem, cerca de 20% de suas lojas físicas em funcionamento pelo País serão abastecidas integralmente por energia de geração solar, como informou matéria editada pelo Estadão na edição de 25 de julho.
Engana-se quem pensa que essa iniciativa se limite a olhar apenas em direção a um mundo mais verde e mais habitável para as futuras gerações. O objetivo é também reduzir despesas com a conta de luz.
Para o caso, a exigência da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a reguladora do setor, é de que tanto a fazenda quanto a unidade consumidora estejam sob a administração da mesma concessionária de energia elétrica.
Pierre-Yves Mourgue, presidente da fornecedora GreenYellow, responsável pela fazenda que abastece o Magazine Luiza, explica que sua empresa arcou integralmente com os R$ 18 milhões necessários para construir as três usinas fotovoltaicas, localizadas nos Estados de São Paulo e do Paraná, a serem utilizadas pelo varejista sob contrato de aluguel. Sem avançar detalhes da operação, Morgue informa que contratos desse tipo devem prever prazos de 10 a 20 anos. Proporcionam redução média de 20% na conta de luz.
O modelo de aluguel de geração remota não é novo. A própria GreenYellow provê há alguns anos o mesmo suprimento para varejistas concorrentes do Magalu, como Casas Bahia e Ponto Frio, do grupo ViaVarejo.
Bárbara Rubim, consultora da Bright Strategies, especializada em modelos de energia renovável, aposta que esse sistema de locação de equipamentos, que já vinha crescendo, deve ganhar força depois da pandemia, tendo em vista a necessidade premente de derrubar custos. “O consumidor não precisa fazer investimento, nem ter muita área de telhado onde pudesse instalar painéis solares, nem, ainda, contar com imóvel próprio”, explica Rubim. Uma padaria instalada em imóvel alugado, por exemplo, pode se transferir para outro lugar e, ainda assim, usufruir dos créditos gerados, desde que informe a concessionária sobre a mudança realizada.
Outra opção é gerar energia própria a partir de painéis solares instalados ou no teto ou em área à parte. No caso de uma residência para duas pessoas, um investimento inicial de R$ 13,7 mil com painéis solares próprios deve reduzir em cerca de R$ 165 a conta mensal de luz, conforme apontam cálculos da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Esse sistema prevê a possibilidade de transferência para a rede da energia não utilizada, operação que geraria créditos que podem ser usados para pagar a energia fornecida pela concessionária nos dias em que a geração solar for insuficiente, ou quando aumentar o consumo doméstico. (As distribuidoras de energia elétrica querem cobrar por esse uso da rede.)
A taxa de retorno é a métrica que precisa ser levada em consideração para avaliar a rentabilidade do investimento. A energia gerada de região para região varia conforme a incidência solar. Na média do Brasil, o retorno, que em 2012 estava avaliado em 12 anos, caiu em 2015 para 7,5 anos e, em 2019, para 4,5 anos. Como a vida útil das placas é de 25 anos, nas condições atuais sobra uma década e meia de rentabilidade.
A adoção da energia solar no País e no mundo vem sendo estimulada pelo aumento da eficiência e pelo barateamento dos painéis fotovoltaicos. Na média, seus preços caíram 85% nos últimos dez anos, ainda que importados da China com um dólar cada vez mais alto. Pelos levantamentos da Absolar, o setor cresceu 50% em potência acumulada entre janeiro e julho deste ano.
O presidente do conselho da associação, Ronaldo Koloszuk, aponta dois fatores que explicam esse dinamismo: o maior consumo de energia dentro de casa em consequência da reclusão e o aumento das linhas de financiamento nos bancos, a juros cada vez mais baixos, a partir de 0,75% ao mês. É provável que, dentro de alguns poucos anos, será comum ver sobre telhados hoje ociosos grande número de instalações de energia solar.
COM GUILHERME GUERRA
Fonte: O Estadão